Por Alireza Akbari
Maira Pinheiro, advogada brasileira e defensora dos direitos humanos, diz que não se intimida em sua busca por justiça contra soldados israelenses de férias no Brasil, apesar de receber ameaças vis.
Vindo de São Paulo, Pinheiro representa a Fundação Hind Rajab, uma ONG que leva o nome de uma menina palestina de seis anos que foi tragicamente morta na Cidade de Gaza em janeiro passado.
Pinheiro foi contratado para representar a fundação com sede em Bruxelas como consultor jurídico na busca de acusações contra Yuval Vagdani, acusado de crimes de guerra hediondos contra palestinos em Gaza.
Vagdani foi acusado de graves crimes de guerra na guerra genocida em curso em Gaza.
Em declarações ao site Press TV, o advogado brasileiro disse que o suspeito participou da “demolição controlada de vários edifícios residenciais, posou para fotos sorridentes, gravou vídeos de si mesmo equipando casas com explosivos e documentou a explosão e, consequentemente, a destruição ilegal em massa de propriedade civil”.
Pinheiro disse que a equipe de investigação da fundação localizou várias famílias palestinas cujas casas foram destruídas. Uma família a nomeou formalmente como sua representante legal, assinando uma procuração.
A advogada observou que trabalhou na documentação das evidências digitais obtidas por meio de investigação de inteligência de código aberto, preservando a cadeia de custódia de acordo com a lei brasileira e geolocalizando rigorosamente todos os locais mencionados.
No entanto, seguindo a diretriz de um tribunal brasileiro para que a polícia investigasse Vagdani, a rádio do exército israelense confirmou que as autoridades do regime israelense facilitaram sua fuga, obstruindo descaradamente a justiça e protegendo-o da responsabilização.
A Fundação Hind Rajab também corroborou essa operação de “contrabando”, destacando o flagrante desrespeito de Israel pelo direito internacional e sua tentativa de minar a justiça em solo sul-americano.
“Também há indícios de que as evidências estão sendo destruídas. Isso não é apenas um escândalo, mas uma afronta à soberania e ao Estado de Direito do Brasil. Israel já empregou táticas semelhantes antes”, disse a fundação em um comunicado, pedindo às autoridades brasileiras que cumpram suas responsabilidades, protejam seus processos judiciais e garantam que a justiça prevaleça.
“A partir de agora, tomei conhecimento por meio de informações de domínio público de que o suspeito conseguiu fugir do Brasil e das autoridades brasileiras com a ajuda da diplomacia israelense”, afirmou Pinheiro.
Enquanto isso, o advogado brasileiro foi ameaçado e intimidado depois de assumir o caso, com muitas ameaças feitas no Instagram supostamente por lobbies pró-sionistas.
Falando ao site Press TV, Pinheiro disse que continua imperturbável com tais ameaças.
“O que me motivou a agir é o fato de que há um genocídio em andamento sendo perpetrado contra o povo palestino. Claro, tenho medo do que Israel e seus defensores podem fazer, mas nenhum risco que corro chega nem perto do que o povo de Gaza está experimentando, e meu principal compromisso é com eles.”
A advogada e ativista brasileira descreveu as ameaças a ela e à filha como “horríveis”.
“A pior parte são as pessoas que exploram a imagem da minha filha, uma criança inocente que não tem nada a ver com o trabalho que faço”, disse ela ao site Press TV.
“Há também um aspecto misógino muito claro nessas ameaças e ataques, como uma profunda falta de respeito por mim como mulher exercendo sua profissão.”
Em resposta a essas ameaças, Pinheiro documentou centenas de ataques e os encaminhou, juntamente com URLs, às autoridades brasileiras para as medidas necessárias.
“No Brasil, é crime previsto no artigo 344 do Código Penal ameaçar alguém com a intenção de interferir em um processo judicial”, afirmou Pinheiro.
“É muito claro que essas pessoas pretendem me intimidar para me fazer me afastar do meu trabalho. Não pretendo dar a eles o que eles querem e continuarei fazendo as mesmas coisas e assumindo as mesmas posturas”, ela se apressou em acrescentar.
A fundação com sede em Bruxelas também condenou veementemente as ameaças em um comunicado no domingo.
“A #HindRajabFoundation condena veementemente os ataques vis e covardes contra nossa advogada no Brasil, Sra. Maira Pinheiro”, escreveu a fundação no X (antigo Twitter).
Acrescentou que o envolvimento de Pinheiro no caso contra o soldado israelense resultou em “sérias ameaças, incluindo ameaças à sua vida, doxxing, calúnias sexistas e até ameaças dirigidas à sua filha”.
A fundação observou ainda que Pinheiro estava simplesmente cumprindo seu dever profissional como parte do processo legal e pediu solidariedade a ela, principalmente da Ordem dos Advogados de São Paulo e da comunidade jurídica em geral.
“Pedimos a todos que se unam em apoio àqueles que corajosamente buscam a justiça, apesar das tentativas de inviabilizar a responsabilidade. A justiça prevalecerá”, afirmou.
Pinheiro, em declarações ao site Press TV, disse que tem acompanhado outros casos que ainda não foram formalmente apresentados à Justiça brasileira.
Segundo relatos, quatro soldados israelenses estão sendo investigados e interrogados na África do Sul, Sri Lanka, Brasil e França sob a acusação de cometer crimes de guerra.
O jornal israelense Times of Israel informou na segunda-feira que 12 queixas foram apresentadas contra soldados israelenses no exterior por crimes de guerra em Gaza, acrescentando que nove dos casos resultaram em prisões.
Em outubro de 2024, a Fundação Hind Rajab apresentou uma queixa formal ao Tribunal Penal Internacional (TPI) contra 1.000 soldados israelenses por perpetrar crimes de guerra contra palestinos em Gaza.

Captura de tela de uma mensagem ameaçadora que Pinheiro recebeu.
A queixa visava soldados de todas as patentes, desde generais de alto escalão e marechais do ar até pessoal de baixo escalão por envolvimento direto em crimes de guerra genocidas na faixa palestina sitiada.
O caso foi reforçado por mais de 8.000 evidências, incluindo vídeos, gravações de áudio, relatórios forenses e documentação de mídia social, detalhando meticulosamente os crimes de guerra dos soldados.
Enquanto isso, a advogada brasileira também fez referência à sua visita de 2024 à Palestina ocupada e sua participação na International Law Summer School da organização Al Haq, enfatizando seu compromisso com a luta por justiça e a libertação da Palestina.
“Tive o privilégio de visitar a Mesquita de Al Aqsa e experimentar sua beleza sagrada e seu profundo significado, e enquanto estive lá, tudo o que consegui pensar foram os queridos amigos de Gaza que tive o privilégio de conhecer durante esta luta, e como era injusto que eu pudesse estar lá enquanto eles não podiam. Eu me comprometi lá com a luta pela justiça e libertação da Palestina.”
Ela também expressou esperança de que “conhecer um pouco de sua história” inspire as pessoas a “se comprometerem com a luta pela justiça e pelo fim deste genocídio”.
A advogada brasileira também expressou seu amor e admiração por Hind, dizendo que ela significa o mundo para ela, ao ver sua filha no pedido de ajuda da menina palestina de 6 anos.
Pinheiro disse que seu coração se partiu em pedaços quando soube pelo jornalista Ismail Al Ghoul, agora martirizado, que Hind havia sido assassinada junto com sua família e os dois profissionais de saúde que tentaram resgatá-la.
“A voz de Hind ecoará para sempre em minha memória como uma representação trágica do sofrimento das crianças de Gaza”, disse ela, lembrando o trágico evento quando a menina palestina foi assassinada.
Publicado originalmente em: https://www.presstv.ir/Detail/2025/01/06/740414/i-committed-pursue-war-crime-cases-israeli-soldiers-despite-threats-lawyer

